Conheça o Coronavírus canino

Conheça o Coronavírus canino

ETIOLOGIA

O Coronavírus canino (CCV) é um membro do gênero Alphacoronavirus, da família Coronaviridae, pertencente à ordem Nidovirales (Figura 1). Coronavírus diferentes dessa família infectam um grande número de espécies domésticas, bovinos, suínos, cães, gatos, equinos, aves, ratos e camundongos. Mais recentemente inclusive seres humanos. Até o momento, foram isoladas várias cepas entéricas do CCV em surtos de doença diarreica em cães. Sabe-se que esse vírus está antigenicamente relacionado ao Coronavírus felino.

EPIDEMIOLOGIA

Em 1971 foi isolado um CCV das fezes de cães militares com suspeita de enterite infecciosa. Desde então, ocorreram vários surtos com isolamentos de Coronavírus similar. O CCV é altamente contagioso e dissemina-se com rapidez em grupos de cães suscetíveis. Estudos sorológicos indicam que a infecção é comum e a soroprevalência pode chegar a 100% em canis e varia de 6 a 75% em populações de cães de estimação.

A contaminação fecal do ambiente é a fonte primária de sua transmissão via ingestão. Os cães infectados geralmente eliminam o vírus por até 9 dias, e a eliminação intermitente pode continuar por meses. O vírus não é particularmente resistente ao meio ambiente, e são necessários cães portadores para sua manutenção. Na ausência da reexposição frequente ao vírus, a duração da imunidade pode ser relativamente curta. Resultados da análise genética indicam que cães podem infectar-se com uma multiplicidade de cepas como infecção simultânea com mais de um genótipo preexistente.

PATOGENIA

É possível eliminar o CCV nas fezes de cães infectados entre 3 e 14 dias, até 6 meses após a infecção. Após a ingestão, o CCV vai para as células epiteliais maduras das vilosidades do intestino delgado onde são transportados para o tecido linfoide subjacente. A captação no tecido linfoide intestinal sugere que o vírus pode persistir ou ficar latente em cães, similarmente ao que acontece com o Coronavírus Felino.

O vírus também se reproduz nas células epiteliais e são liberados diretamente no ambiente externo. Após a produção de vírus maduro, as células infectadas desenvolvem alterações citoplasmáticas graves e as microvilosidades ficam curtas, distorcidas e se perdem. O resultado geral é a perda das vilosidades das células infectadas em velocidade acelerada. O epitélio da cripta não é destruído, ao contrário, desenvolve-se hiperplasia. Diferentemente do que ocorre na infecção pelo Parvovírus canino, necrose de vilosidades e hemorragia são raras.

Assim como outros Coronavírus, o CCV pode sofrer mutação, resultando em cepas mais virulentas e correspondente gravidade maior de doença entérica. Descobriu-se que a variante altamente virulenta CB/05 causa uma doença multissistêmica fatal, com sinais clínicos que lembram os causados pelo Parvovírus canino (CPV2), incluindo gastrenterite hemorrágica e linfopenia. Graças à mutação genética do CCV entérico, o Coronavírus pantrópico adquiriu sua capacidade de disseminar-se internamente para outros tecidos, como faz o vírus da Peritonite Infecciosa Felina a partir do FCoV entérico.

SINAIS CLÍNICOS

Infecção pelo Coronavírus entérico é de difícil diferenciação de outras causas infecciosas que causam enterite. O consenso geral é o de que a infecção pelo CCV em geral é menos notável do que a infecção pelo Parvovírus tipo 2. Os sinais clínicos podem variar bastante e a doença acomete cães de qualquer idade, contrastando com as infecções pelo CPV, em que os cães acometidos geralmente têm menos de 2 anos de idade. Cães com a infecção pelo CCV costumam ter início súbito de diarreia, às vezes precedida por vômitos. Perda de apetite e letargia também são sinais comuns.

Os sinais podem ser mais graves nas infecções com cepas particularmente virulentas ou em filhotes caninos muito jovens. Nos casos graves, há possibilidade de a diarreia tornar-se aquosa e ser seguida de desidratação e desequilíbrios eletrolíticos. A maioria dos cães acometidos tem recuperação espontânea após 8 a 10 dias. Quando surgem fatores complicadores secundários (parasitos, bactérias ou outros vírus), a doença pode prolongar-se significativamente.

Nas infecções pelo Coronavírus pantrópico há sintomas mais severos, como: febre (39,5 a 40°C), letargia, anorexia, vômitos, diarreia hemorrágica, leucopenia e sinais neurológicos (ataxia, convulsões) seguidos pela morte em 2 dias. Seria difícil distinguir esses sinais daqueles da infecção por Parvovírus (CPV2). Cães recém infectados com Coronavírus entérico e submetidos subsequentemente a desafio com o Coronavírus pantrópico (cepa CB/05) tiveram sinais clínicos mais leves, leucopenia e eliminação viral indicando apenas proteção imune heteróloga parcial.

DIAGNÓSTICO

O vírus pode ser detectado nas fezes mediante imunocromatografia, microscopia eletrônica ou PCR. Testes de soro neutralização ou de Imunofluorescência indireta podem ser usados para demonstrar um aumento no título de anticorpos.

Referências

Microbiologia veterinária e doenças infecciosas / P. J. Quinn, B. K. … [et al.]; tradução Lúcia Helena Niederauer Weiss, Rita Denise Niederauer Weiss. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Doenças infecciosas em cães e gatos / Craig E. Greene; tradução Idilia Vanzellotti, Patricia Lydie Voeux. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.

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