VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO (VSR)

VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO (VSR)

VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO (VSR)

Características da doença e diagnóstico

 

Em geral, as infecções respiratórias no Brasil são mais comuns durante períodos específicos do ano, como outono e inverno. Entretanto, essa sazonalidade pode variar de acordo com a região geográfica e clima, apresentando circulação de microrganismos patogênicos respiratórios em estações climáticas não definidas. Apesar da circulação de outros patógenos, o vírus sincicial respiratório (VSR) é a décadas um dos principais causadores de problemas respiratórios, não só no continente brasileiro, mas em todo mundo, especialmente na população neonatal, idosa e imunocomprometida.

Em geral, no Brasil, a sazonalidade do VSR é definida conforme a região do país:

Norte: fevereiro a junho

Nordeste: março a julho

Centro-Oeste: março a julho

Sudeste: março a julho

Sul: abril a agosto

Entretanto, de acordo com o Ministério da Saúde, entre janeiro e março de 2023 mais de 3.000 casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) causados por VSR (Vírus Sincicial Respiratório) foram registrados. E, 94% dos casos foram de crianças com idade abaixo de 4 anos. Ainda, o sudeste foi a região que mais identificou casos, seguido do centro-sul.

 

O Vírus

Pertencente à família Pneumoviridae e ao gênero Orthopneumovirus, o VSR é um vírus polimórfico de RNA de cadeia simples e sentido negativo. Sua forma dominante possui diâmetro de aproximadamente 50nm e comprimento de 1 a 10 µm. Seu genoma é segmentado em 10 genes que codificam nove proteínas estruturais, das quais são a nucleoproteína (N) que tem importância para ligação da partícula viral ao RNA genômico, a fosfoproteína (P), que forma os tetrâmeros virais entre a N e a L, além de atuar como chaperona; a proteína de matriz (M), que participa da transcrição viral e está localizada dentro do envelope, atuando como seu suporte; a proteína pequena hidrofóbica (SH), que é um canal iônico pentamérico; a glicoproteína (G) que, além de participar de vários processos durante a replicação, interage com moléculas da superfície celular e faz a conexão entre vírus e célula hospedeira; a proteína de fusão (F), que em sua forma madura, medeia a fusão entre membrana viral e celular; as proteínas M2-1 e M2-2 que estão envolvidas no processo de transcrição e regulação replicativa e a polimerase (L) que participa da transcrição de mRNA.

Também, são codificadas duas proteínas não- estruturais, NS1 e NS2, que estão associadas à evasão da resposta imune inata, da qual a NS1 atua como inibidora da resposta de interferon tipo I (IFN), da maturação de células dendríticas e de resposta inflamatória. Já a NS2 pode impedir a produção de sinalização celular e de INF tipo I.

Os subtipos de RSV humano de maior importância de saúde pública são os A e B, determinados por deriva antigênica e duplicações em sequências na proteína G, além de alterações em todo o genoma.

 

Patogênese

A transmissão viral se dá por meio de contato com gotículas de saliva ou muco das vias aéreas superiores contaminadas. E a replicação do vírus se dá a partir da penetração em células epiteliais da nasofaringe e do trato respiratório superior por meio de fusão da superfície celular ou via macropinocitose. As partículas virais podem ser transferidas para bronquíolos e alvéolos, no trato respiratório inferior. Em pacientes acometidos com VSR, a resposta imunológica induz infiltração de neutrófilos e estreitamento das vias áreas, o que pode resultar em bronquiolite. Estudos inferem que os danos às vias aéreas inferiores, causados pelo sistema imune, durante a infecção, é o principal motivo de severidade da doença. Pois, o recrutamento exacerbado de células inflamatórias, secreção excessiva de muco, cílios esfoliados das vias aéreas, neutrófilos e linfócitos ativos levam a obstrução das vias respiratórias.

Pessoas infectadas podem transmitir o vírus por 3 a 8 dias do início dos sintomas.

Pessoas com sistema imunológico enfraquecido, podem transmitir por até 4 semanas.

 

Resposta imunológica

Resposta humoral

A infecção pelo vírus induz a produção de anticorpos IgM (imunoglobulinas do tipo M), IgA (imunoglobulinas do tipo A) e IgG (imunoglobulinas do tipo G). Esse, geralmente, tem como função principal a neutralização viral e atuam, principalmente contra as proteínas virais F (proteína de fusão) e G (glicoproteína). Porém, a resposta neutralizante contra a proteína F pode ser reduzida em bebês abaixo de 6 meses, devido à limitação imunológica.

Em geral, os anticorpos IgM podem ser detectados entre o 5º ao 10º dia de início dos sintomas e podem persistir por até 3 meses após a infecção. Em alguns casos, pode-se detectar os anticorpos IgM até um ano após a doença. De outro lado, níveis de anticorpos IgG são detectáveis a partir de 20 dias de sintomas e perduram em alta por até um ano. Estudos demonstram baixa significativa nos níveis de anticorpos neutralizantes em soro de pacientes idosos, o que se relaciona com sintomatologia mais grave nesses pacientes acometidos pelo vírus.

 

Resposta celular

Há equilíbrio entre a resposta Th1 e Th2 durante a infecção por VRS. Sendo que, a resposta Th1 induz a liberação de IFN- γ (interferon gama) por linfócitos T CD8+ e CD4+ e produção de anticorpos do tipo IgA em mucosas. Ainda, a secreção de IL-4 (interleucina 4) promovida por células T CD4+, produção de anticorpos IgE e eosinofilia são induzidas pela resposta Th2. Além disso, estudos demonstram ativação da resposta Th17 durante a infecção por VSR.

 

 

Manifestações clínicas

Os sintomas, surgem, em geral, cerca de 3 a 7 dias após a infecção pelo vírus, e os mais comuns são coriza hialina, tosse, febre, obstrução nasal e falta de apetite. Também, outros sinais de alerta podem ocorrer como cianose, retração torácica, apneia, prostação e dificuldade respiratória.

A sintomatologia da doença, geralmente, é inespecífica e frequentemente está associada à outras infecções respiratórias bacterianas.

 

Pode causar doença grave:

Em crianças com menos de 6 meses

Bebês prematuros

Crianças menores de 2 anos com doença pulmonar crônica ou cardiopatia congênita

Crianças com sistema imunológico suprimido e com distúrbios neuromusculares

 

Pode causar pneumonia com sintomas mais graves:

Idosos

Adultos com problemas cardíacos ou doença pulmonar

Adultos com sistema imunológico comprometido

Portadores de asma

Acometidos com insuficiência cardíaca congestiva

Crianças abaixo de 2 anos são as mais acometidas pela doença. Em média, 40 a 60% das crianças se infectam com VSR no primeiro ano de vida e mais de 95% aos 2 anos. Bebês prematuros têm risco dez vezes mais elevado de hospitalização em relação aos bebês nascidos com semanas de gestação indicadas.

 

Diagnóstico clínico e laboratorial

A confirmação de VSR se dá obrigatoriamente com a junção de achados médicos e exames laboratoriais, pois outros agentes patogênicos que infectam o sistema respiratório, como outros vírus e bactérias, causam sintomas semelhantes.

 

Transcrição Reversa seguida de Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (rRT-PCR)

Método de referência para detecção de VSR em adultos;

Alta sensibilidade;

Alta especificidade;

Custo oneroso em relação a outros testes;

Necessário suporte laboratorial complexo;

Permite quantificação dos ácidos nucleicos virais.

 

Detecção de antígenos

Testes imunocromatográficos

Fácil utilização;

Resultados rápidos;

Permite triagem para diagnóstico diferencial;

Pode ser usado para acompanhamento da eficácia medicamentosa;

Auxílio e monitoramento epidemiológico;

Sem necessidade de leitura automatizada;

 

Outros métodos

Ensaios por imunofluorescência direta

Boa Sensibilidade e especificidade;

Alto custo;

Exige pessoal qualificado.

 

Ensaios de imunoabsorção enzimática (ELISA)

Rápido;

Sensibilidade variável (a depender da prevalência);

Exige pessoal qualificado.

 

Cultura viral

Alta sensibilidade e especificidade;

Importante para conduta clínica de casos mais graves;

Tempo extenso para execução (de 3 a 6 dias);

Alto custo.

 

Sorologia

Os testes sorológicos são uteis para a vigilância epidemiológica e para estudos científicos, dos quais, seus resultados contribuem para definir linhas de pesquisas direcionadas ao desenvolvimento de vacinas, medicamentos e testes laboratoriais mais eficientes para o diagnóstico de VSR.

 

 

REFERÊNCIAS

Wertz GW, Collins PL, Huang Y, Gruber C, Levine S, Ball LA. Nucleotide sequence of the G protein gene of human respiratory syncytial virus reveals an unusual type of viral membrane protein. Proc Natl Acad Sci. U S A. 1985;82(12):4075–4079.

Gan SW, Tan E, Lin X, Yu D, Wang J, Tan GM, Vararattanavech A, Yeo CY, Soon CH, Soong TW, Pervushin K, Torres J. The small hydrophobic protein of the human respiratory syncytial virus forms pentameric ion channels. The Journal of biological chemistry. 2012;287(29):24671–24689.

Linder KA, Malani PN. Respiratory Syncytial Virus. Jama. 2017;317(1):98.

Ramyres et al. Diagnosis of Respiratory Syncytial Virus in Adults Substantially Increases When Adding Sputum, Saliva, and Serology Testing to Nasopharyngeal Swab RT–PCR.  Infect Dis Ther. 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10163290/.

Popow-Kraupp, Therese Aberle; Judith H. Diagnosis of Respiratory Syncytial Virus Infection. Open Microbiol J.2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3258569/.

Eiland, Lea S. Respiratory Syncytial Virus: Diagnosis, Treatment and Prevention. J Pediatr Pharmacol Ther. 2009. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3461981/#:~:text=Enzyme%20immunoassay%20(EIA)%20is%20the,cost%20and%20objective%20end%20point.&text=EIA%20has%20a%2090%25%E2%80%9395,%25%E2%80%9390%25%20sensitivity%20range.

CDC. Respiratory Syncytial Virus Infection (RSV). Disponível em: https://www.cdc.gov/rsv/index.html.

WHO. Respiratory Syncytial Virus (RSV) disease. Disponível em: https://www.who.int/teams/health-product-policy-and-standards/standards-and-specifications/vaccine-standardization/respiratory-syncytial-virus-disease.

ANVISA. NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 04/2020. Orientações para serviços de saúde: medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos ou confirmados de covid-19: atualizada em 31/03/2023.

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